Os Amores Rasos


Cristiane Luz

“Me apaixonei pelo que ele queria que eu me apaixonasse.”
A frase pronunciada pela minha amiga ficou no ar enquanto voltávamos de Igrejinha após um evento de escritores. Conversávamos sobre nossas experiências do coração.
Ela viveu um relacionamento tóxico, mas só se deu conta do quanto era prejudicial após quatro anos vivenciando-o.
Segundo ela, quando se está nesse tipo de relacionamento, muitas vezes, ele vem com uma roupagem de carinho, cuidado e ciúmes. Comportamentos prejudiciais, justificados pelo fato de gostar. Via-se presa, sufocada, e, muitas vezes, o parceiro fazia-a sentir-se inferior. Várias coisas já indicavam o quanto o relacionamento estava fazendo mal a ela. Só se deu conta de que era tóxico após o encerramento desse ciclo, ou seja, o fim do relacionamento.
Já em outro, teve a maior conexão com a sua família. Para ela, amou de verdade, mas não foi recíproco.
“A gente sempre acha que conosco será diferente.” – ela comentou enquanto dirigia, suas mãos estavam firmes ao volante.
No início, foi um relacionamento à distância, mesmo eles já se conhecendo pessoalmente. Arranjavam tempo para ficar juntos. No primeiro ano, uma paixão bonita, mas, depois, começaram as cobranças, as desconfianças e as inseguranças. Então, ela começou a se perguntar: “a culpa é minha por não estar dando certo?” Se a pessoa que está ao meu lado sente-se insegura, fazemos o possível para manter o relacionamento saudável.
Na verdade, aquele relacionamento começou a ser alimentado por mentiras e traições da parte dele. Criando, projetando coisas e circunstâncias que faziam a relação enfraquecer, afetando até o trabalho dela. Um homem inseguro que a estava deixando infeliz. Ele não tinha coragem de acabar o relacionamento, inclusive, após a traição. Terminou com ela por telefone após terem passado juntos um final de semana maravilhoso em Búzios.
“Cara, é sério? Não acredito que você está terminando comigo por videochamada!” – falou ela.
“Como se você já não soubesse. Por isso, o nosso relacionamento não deu certo. Você tem frases prontas” – ele tentando culpá-la pelo término.
Após todas essas experiências complicadas, nos sentimos no fundo do poço – continuava minha amiga, enquanto o aplicativo de rotas guiava o nosso caminho de retorno para casa.
Nós aceitamos o amor que achamos que merecemos. Por acreditar que não se possa dar mais, não se possa buscar mais, acabamos aceitando o pouco que nos é oferecido. Os relacionamentos atuais estão descartáveis, as pessoas não se importam e não se empenham em fazer dar certo. Preferem descartar e trocar, em vez de tentar manter e deixá-lo saudável. Na verdade, isso é paixão. Ela é irracional e, por essa razão, acabamos aceitando migalhas.
A vida está cheia de paixões rasas, pessoas rasas e de amores rasos, mas ela também está cheia de pessoas profundas que se importam com a troca recíproca.
O amor inicia pela admiração, e o regamos com a reciprocidade para que comece e crescer, a evoluir...
“Apesar de tudo...” – prosseguiu minha amiga – “continuo acreditando que podemos confiar nas pessoas, sabe? Acredito que a gente não deve deixar que as atitudes das pessoas mudem ou nos moldem, porque o que elas fazem é delas, e eu não sou assim. O que é delas que fique com elas. Não podemos deixar que, em momento algum, um por cento que elas fizeram contigo te afete, porque é delas.”
A estrada estava tranquila naquela tarde, voltamos de boa e, mesmo com uma música qualquer no rádio do carro, todas as palavras certeiras da minha amiga não saíam da minha cabeça: os amores rasos.

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Cristiane Luz

E-mail: crisluz1311@gmail.com

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